2011-02-21

Donzela Guerreira - Grupo Anima

A DONZELA GUERREIRA

“Do encontro da tradição medieval com a música regional brasileira, o grupo Anima surge como uma revelação de novas sonoridades, inaugurando um caminho dentro da música brasileira atual.” Nas palavras do maestro Benjamim Taubkin.
Os espetáculos do ANIMA – musica mundana humana et instrumentalis, são o resultado de intenso trabalho de pesquisa de interpretação baseado na música de comunidades não letradas, afastadas de centros urbanos no Brasil e na música da Idade Média e do renascimento europeus.


A temática abordada pelo ANIMA – musica mundana humana et instrumentalis é a do encontro entre o feminino e o masculino, anima e animus, representado através do mito da DONZELA GUERREIRA. Em todas as culturas e épocas, operando tanto nos substratos mitológicos quanto históricos, não faltam referências a mulheres guerreiras que, com valentia, bravura, idealismo, e uma necessária dose de transgressão, lograram assumir, com competência, papéis predestinados aos homens.
Exemplos da recuperação do mito da Donzela Guerreira em formas eruditas são encontrados no teatro de Shakespeare e na poesia épica de Torquato Tasso, a partir da qual Monteverdi criou sua Clorinda, o anti-herói do famoso Combatimento, que surpreende ainda hoje por sua contemporaneidade. No Brasil, Guimarães Rosa reformulou e atualizou este arquétipo na paisagem árida do sertão, na figura emblemática de Diadorim. Como seus antecessores, este personagem, pivô das paixões no Grande Sertão: Veredas, segue guiado pelo exemplo-matriz de todas as donzelas guerreiras, a figura mítica de Palas Atena.
Espelhando-se na transgressão e diluição de fronteiras operadas pela dama guerreira, o Grupo ANIMA vai além e busca, na diversidade cultural brasileira, elementos autóctones para se contraporem às donzelas guerreiras medievais, como Hildegard von Bingen, e as versões do cantar feminino emolduradas pelas cantigas de amigo, principalmente as atribuídas a Martin Codax e Afonso X. Através de elementos provenientes das culturas indígenas e afro-brasileiras, com o foco na música de rituais como o do iamurikumã das índias do Alto Xingu e das visões, das índias Kaxinauá e dos rituais femininos das caixeiras-do-divino, ainda hoje praticados pelas mulheres em suas respectivas comunidades, apresentamos um roteiro musical baseado em repertório da Idade Média e do Renascimento europeus que se intersecciona e funde com a música indígena, afro-brasileira e da tradição oral brasileira. Este roteiro musical inclui ainda versões do romance da donzela guerreira recolhidas na Paraíba e na Bahia.
ANIMA – musica mundana humana et instrumentalis, que se notabilizou por construir sua linguagem musical alicerçada sobre pólos estéticos da música medieval ibérica e da tradição oral brasileira, desconstrói cronologicamente este romance, enfocando a batalha interior travada pela revelação tardia de um amor impossível, que, entretanto, leva ao auto-conhecimento marcado pela travessia e pelo encontro entre anima e animus. A abordagem dramática deste roteiro conduz o ouvinte a uma concretização contemporânea onde o tempo linear e histórico é diluído e as fronteiras estético-musicais são afrouxadas.
Deixando de lado justamente a oposição entre autor versus autora, que do nosso ponto de vista, induz a um viés sexista, este programa propõe uma maior ênfase na abordagem temática do feminino do que na questão de gênero pura e simplesmente. Isto implica em acolher obras compostas não só por mulheres, mas também por homens que abordaram o tema do feminino em matizes pouco convencionais. A transgressão dos papéis masculino/feminino, que serve de base ao contexto dramático no romance da donzela guerreira, opera batalhas em diferentes níveis: do discurso da guerra propriamente dito, ao discurso subliminar da conquista amorosa, representando um combate que não dispensa as táticas de aproximação e recuo, mas que nem sempre se resume a vencidos e vencedores.
Prestes a completar vinte anos de existência, ANIMA – musica mundana humana et instrumentalis, traz à tona uma múltipla gama estético-musical, contextualizando-a dentro da contemporaneidade, o que permite uma abordagem musical além dos limites e fronteiras restritos à produção musical convencional.


Fotos Grupo ANIMA: Gabriela Bernd

Donzela Guerreiradireção cênica: Maria Thais
cenário e figurino: Márcio Medina
desenho de luz: Fábio Retti
assistente de figurino: Carol Badr
Por Edgard Steffen

GRUPO ANIMA - Prêmio APCA - Prêmio Movimento - V Prêmio Carlos Gomes

MÚSICOS
GISELA NOGUEIRA viola de arame
LUIZ FIAMINGHI rabecas brasileiras
MARÍLIA VARGAS soprano
MARLUI MIRANDA canto  flautas indígenas brasileiras
PAULO DIAS percussão cravo organeto
SILVIA RICARDINO harpa de trovador
VALÉRIA BITTAR flautas-doce históricas  flautas indígenas brasileiras


Direitos Autorais: GRUPO ANIMA
A divulgação deste material tem o estrito objetivo de compartilhar informações sobre o grupo, músicos que fizeram e fazem parte de intenso trabalho de pesquisa.
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STELLA GUERREIRO produtora do Blog do Violonista Antônio Mineiro

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